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RESENHA| JUST IT/CARMÉNÈRE/XILEMA - DAN PORTO

10 janeiro 2017 Comentar
Poesia não é para ser simplesmente lida, mas sentida, sempre.


Não é novidade alguma que fazer poesia requer certas características para que um texto possa ser considerado poético. É necessário o verso, a estrofe, a métrica, o ritmo e, as vezes, a rima. Contendo alguns ou todos estes atributos, um texto pode, enfim, ser chamado de poesia. O gênero e suas características nos são ensinados ainda na escola, mas esquecem de dizer que poesia não é só isso. Poesia tem que ter sentimento, vontade e criar mais disso tudo, assim que é lida e se fecha novamente para seu malucado local de descanso. O pior de tudo, não nos ensinam a ler verdadeiramente uma poesia. E, achamos que devemos ler um poema da mesma maneira que lemos uma narrativa. Mortífero engano. Você só lerá verdadeiramente uma poesia quando ela tiver lido você. Quando o texto não for mais papel e tinta, mas carne e sangue.

Quando leio um poema levo um tempo bem maior fazendo com que o texto deixe de ser texto e passe a fazer parte de mim. Para ter certeza de que o li realmente. É diferente de quando leio uma narrativa. Não que essa tenha menor valor, mas tem seu jeito próprio de ser apreciada. Quando me lanço nesse desafio, espero que após o termino saio mudado. Tenha deixado pedaços para trás e tenha em mim novos. Se um poema não fizer isso, não vale a pena. E foi assim que me senti após ter terminado de ler Just It, Carménère e Xilema do Dan Porto. E tive de ter um bom tempo de reflexão para deixar o corpo se acostumar com as feridas e os novos pedaços. E, só assim, colocar o poema para fora.

 O Dan começa apresentar sua poesia de uma forma frenética e sem tempo para desculpas. O primeiro livro desta trilogia poética e como o nascer: é ouvir as batidas do coração aceleradas, e o esforço para acompanhar tudo de novo que está acontecendo e, por fim, ver a luz e chorar. Just It trás esse ritmo mais acelerado e de descoberta. Por vezes você se sentirá correndo e sem ar. Mas é o que torna a obra mais emocionante. Juntamente com os poemas você encontra desenhos inéditos os enriquecem e acabam estimulando ainda mais a poesia em você.

O segundo livro é como o momento depois do nascimento: é vislumbrar o mundo pela primeira vez. E sentir a dor nos olhos ao abri-los e ver a luz. Diferente do primeiro que traz a euforia e a celeridade das coisas, Carménère, te faz respirar e apreciar com cautela todas as novas descobertas. É se dar conta de que poesia pode ser andar a tarde por um novo lugar ou observar a vida da janela. O livro nos conecta mais com os desejos e os prazeres da vida, fazendo lembrar que qualquer momento é importante perante o todo.

O terceiro e último livro é como o morrer da carne: é a hora que tudo se conclui e começa novamente. É lembrar com certo distanciamento para que a obra seja e carregue o todo em si. Xilema, como o próprio autor descreve "é o líquido das memórias, a essência grossa e viscosa dos pensamento." Ele conclui com êxito essa analogia da vida que usei para conseguir explicar a trilogia poética. Com ele o autor conseguiu fechar o ciclo sem feriadas e pedaços que não foram sentidos até aqui.

Sinta a poesia
Quando estiver lendo a trilogia não queira decifrar ou achar significado nas poesias. Elas irão dizer para você para você o que acharem que tem que ouvir. Poesia é assim. Você não a doma nem faz dela uma narrativa com seu começo, grande acontecimento e desfecho. Elas podem, e trazem, tudo isso em uma única palavra. Se tentar achar seu significado sem senti-las elas farão com que se perca até que se redima e possa novamente apreciá-las.


CONHEÇA O AUTOR

Dan Porto é escritor. Nesta vida nasceu ruivo, a 03 de setembro de 1983, em Candelária - RS. Depois o cabelo ficou cinza, mas em compensação a barba se mantém fiel às origens. É Especialista em Tirar meias sem usar as mãos e Mestre em Análise Crítica de Quase Tudo. Ministra os cursos OFF BOX - Vida Criativa, Transtexto - Criatividade, Liberdade e Expressão Poética e O Trabalho de Rememorar

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